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Crônica

FEVEREIRO-2017   -    A PESTE DO IDEAL E DO SEPARATISMO

Uma das mais angustiadas questões destes tempos decaídos é o alto grau de idealismo que depositamos em nossos desejos e atitudes. Esse é um dos resíduos da velha Era de Peixes/Virgem que vamos ter que enfrentar para resgatarmos uma certa humanidade perdida. A velha Era Peixes/Virgem nos trouxe para a consciência vários temas importantes entre os quais a consolidação e o desenvolvimento das tradições espirituais como o Induísmo, Budismo, Cristianismo, Islamismo. Em contrapartida desenvolveu também, como sombra, todo um cientificismo tecnológico cartesiano que separou em pedaços e desconectou todas as áreas do saber humano, imprimindo uma certa esquizofrenia anímica. Essa esquizofrenia acabou gerando uma amnésia de si mesmo, e na ânsia de nos reconectarmos vamos em busca de um ideal perdido que gera uma confusão generalizada. Gera uma realidade caótica e mega complexa, num mundo cheio de apelos, estímulos e opções de caminhos. Todo esse contexto gerou uma tremenda doença, uma espécie de peste, como a Peste Negra da Idade Média. Hoje poderíamos falar da Peste do Ideal e do Separatismo.

Essa peste vai gerando essa realidade que percebemos no dia a dia, essa correria desenfreada, essa falta de tempo, essa violência generalizada e tudo mais. De modo geral há uma incapacidade de ver-se no outro, de estabelecer uma empatia, de contemplar um outro tipo de código para o que se percebe como realidade. Essa peste vai misturando tudo indiscriminadamente, ou vai separando tudo dessa mesma forma. E isso gera em nós uma angústia porque sentimos como se tudo estivesse se desmanchando, ou não tivesse importância maior que um dia ou uma hora, tudo muito efêmero, tudo liquefazendo-se. Também porque não vislumbramos um caminho, nos vemos impotentes ou vítimas de um mega organismo que já não oferece os resultados que oferecia antes em outros tempos. Dá uma sensação de que está tudo regredindo e que não temos escolhas, que não temos líderes como antes, que a idoneidade está passando ao largo. Outra coisa é a sutileza da negatividade que vai gerando uma dúvida existencial, uma depressão massiva pela falta de sentido no trabalho, pela forma como encaramos o trabalho, pela maneira como utilizamos o tempo.

O ideal está impregnado em qualquer coisa que fazemos, quando aprendemos algo novo que vai nos trazer mais sentido e força, logo idealizamos isso, queremos implementar isso como um novo dogma, pronto, é isso, agora estou salvo e vou salvar os outros! Viciados a seguir modelos de sempre, em relação a uma imagem de sucesso, a uma imagem de conhecimento, a uma imagem de relacionamento, de família, de tudo, uma rigidez moral, uma rigidez ética idealizada. Quando nos idealizamos não nos permitimos sentir qualquer coisa, filtramos os sentimentos e emoções por aquilo que seria o ideal para sermos aceitos. Nos auto enganamos e nos artificializamos, isso nos afasta cada vez mais de uma presença autêntica e aumenta o abismo da separatividade em relação aos outros.

Sim, a peste se estabeleceu em todos os cantos e é necessário retornarmos à sanidade, resgatar o humano, buscar um mínimo de amor próprio, não excluir-se para não excluir os outros, que tenha um apreço com o seu próprio tempo e o tempo das coisas. A reconexão passa pela humanização de si mesmo e isso não significa ter razão ou ser super sensível, talvez passe simplesmente por estar aberto.